sexta-feira, 9 de março de 2012

PARA NÃO ESQUECER

Não faz muito tempo que uma linha telefônica no Brasil custava algo em torno de 2.000 dólares.

     Demorava algo como dois anos para ser instalada e era incluída na declaração de imposta de renda como patrimônio pessoal.  Naquele período - final dos anos 90 - havia 19 milhões de linhas fixas em operação. Apenas 3% da população tinha celular. Os felizardos proprietários tinham direito a um serviço caro e ruim. O Brasil era pátria de um dos mais primitivos e risíveis sistemas de telecomunicações do mundo. Hoje, ainda que com distorções e problemas, há 62 milhões de linhas fixas e 242 milhões de celulares em funcionamento no país. A comunicação telefônica tornou-se algo tão banal que aquele país do final dos anos 90 para algo difuso, estranho e incompreensível. No meio dessas duas realidades está a privatização das empresas de telecomunicações, um movimento que, a exemplo de todos os outros processos desse tipo, tem sido ora demonizado, ora renegado, a depender da conveniência política do crítico de plantão.
     Somos constantemente acusados de ser uma sociedade de memória curta - mas pelo bem do futuro é prudente não esquecer as lições do passado.
     O sistema de telefonia de ontem é nosso sistema aeroportuário de hoje. Temos alguns dos mais obsoletos e ineficientes aeroportos do mundo, instalações que contradizem nossa ambição de nos tornamos uma potência econômica e que sob o comando do Estado só pioram conforme o tempo passa.  Minha experiência com aeroportos no Brasil se iniciou em 2005 e a longo destes anos só se vê placas com propagandas informando que "estamos trabalhando para seu conforto", mas que nada fazem a não ser esconder a ineficiência. É por isso que, a despeito da polêmica gerada pelo resultado do leilão, a concessão deve ser encarada como uma vitória da razão e da experiência sobre o obscurantismo ideológico. Demos um passo fundamental - espera-se que o primeiro ruma á inadiável modernização da infraestrutura brasileira. Teremos muito a comemorar se, daqui a alguns anos, olharmos para trás e nos perguntarmos como podíamos conviver com tamanho absurdo.
Fonte: EXAME.

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