segunda-feira, 4 de junho de 2012

COMO SELECIONAR TALENTOS?

"Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende"
                                                                              Guimarães Rosa

     Já li muitos artigos ensinando às pessoas como devem se comportar em uma entrevista. Vi poucos dando dicas ao entrevistador. Não quero dar conselho para ninguém, só contar uma pequena história.
     Certa vez fiz um curso sobre a "a arte de contratar talentos". E depois fiquei horrorizado, porque aquilo contraria meu bom senso: na metodologia ensinada o candidato deve ser esmiuçado como se fosse um novo computador ou um sistema que a empresa estava interessada em adquirir. No meu parecer, falta o "espírito". Pois, não tenho um método determindo, simplismente converso com a pessoa.  Dou uma passadinha de leve no currículo, para saber onde estudou, mas não me interesso pelas coisas maravilhosas que já fez em outras empresas. Procuro deixar o entrevistador falar mais e o respondo com sinceridade suas perguntas a respeito da empresa. E na oportunidade procuro informar as coisas boas e ruins que a empresa tem, como forma da pessoas se situar dentro da organização.  Você deve estar pensando, a que hora parte o foguete para Alfa Centauro, porque esse cara vive em outra galáxia.
     Pelas minhas contas, eu já admiti ou colaborei no processo de admissão de muitas pessoas. Errei, claro, e até errei feio. Mas, fazendo umas contas empíricas, acertei na mosca na maioria esmagadora dos casos. Muitas vezes, não recomendei a admissão do candidato com melhor currículo acadêmico, nem a do que tinha uma postura executiva perfeita, nem a do que estava mais adequadamente trajado para a ocasião. Mas daquele que me contava uma história de sua infância com mais entusiasmo e paixão.
     O resultado dessa estratégia pouco ortodoxa é óbvio: é uma maravilha trabalhar com gente assim. O ambiente fica leve, há muito bom humor pairando pelos corredores, não se formam grupos em que um quer furar o olho do outro.Mas, claro, essa gente que se emociona quando relata a primeira bronca que levou quando era estagiário, ou que erubesce ao lembrar de um erro absurdo que cometeu, não esta neste mundo corporativo só para se divertir. Exatamente por ser assim, passionais, é que eles acabarão transpondo qualquer obstáculo para dar à empresa exatamente o que o método convencional de entrevistas mais procura em um candidato: lucro na hora de fechar as contas do mês.
     E tem só mais uma última coisa. Uma das únicas perguntas que faço a um candidato é: se um dia eu tiver que demití-lo, como você gostaria que eu lhe comunicasse esta decisão? Já ouvi várias respostas interessantes. Algumas delas: "Não importa a forma porque, de qualquer jeito, na hora eu vou chorar". Ta contratado! Outra vez um me pediu: "Só não faça isso numa sexta-feira à tarde, como quase todas as empresas fazem, porque é muita crueldade". A verdade é que despedi poucas pessoas e, mesmo nesses casos, eu sempre sabia como começar. "Voltando àquele papo da nossa entrevista..." E nunca contratei alguém que tivesse me respondido: "Tenho a certeza de que jamais serei dispensado". Porque isso é ignorar que na vida corporativa existem, muitas vezes, solavancos que estão acima da vontade de quem demite e do bom desempenho do funcionário. A resposta a essa pergunta da demissão, pelo menos para mim, define o profissional bem resolvido, o que sabe balancear o dom de sonhar com a capacidade de enxergar a realidade.

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