segunda-feira, 16 de abril de 2012

CLIENTE, GO HOME!

Literalmente a vontade que dá é ir para casa mesmo...

     A economia estabilizada, você recebeu seu salário e não está nem ai para os conselhos dos economistas de plantão: Vai entrando na primeira loja que aparecer na frente e consumir feito louco. Hum!!! Só que não se esqueça de levar uma dose extra de bom humor e paciência. Não por causa dos preços, que você está careca de saber, que andam nas alturas. O problema é outro: O ATENDIMENTO. Você não liga para isso? Eu ligo.Iniciamos nossa passeio por uma loja de departamentos num shopping conceituado. O atendimento é self-service, mas como tem uma moça de uniforme circulando na área, você se enche de coragem e pergunta: Por favor, tem desta calça no número 44? A vendedora te olha como se você tivesse pedindo o namorado dela emprestado e responde: "O que tem taí". Assunto encerrado. Ela já está fora do seu raio de visão e você se sente um idiota. Claro, o que tem está aqui. O pior ainda esta por vir. Ao dirigir-se ao caixa, algumas perguntas terão que ser feitas: cheque, cartão, desconto à vista, como é que é? Dê se por satisfeito com respostas monossilábicas: sim, não. Elas não querem papo. Desista.  Mude de loja e vá a uma livraria, que o nível da conversa vai ser outro.
     "Boa tarde, você tem o livro Escrever, de Marguerite Duras?" A moça que está te atendendo entra em estado de choque. Depois de alguns segundos, ela pergunta: "É sobre o que?" Depois de uma breve explicação, que se trata do ofício de escrever baseado na experiência da autora. A vendedora se enche de euforia e seus olhos se iluminam: "Ah! Vou procurar entre os livros técnicos". Neste momento, entra em cena o gerente da loja. Trava-se o seguinte diálogo entre os dois: "Ele está procurando um livro sobre escrever". E voltando-se para mim: "Qual é mesmo o nome da escritora?" respondi, caprichando na pronuncia. Desta vez foi o gerente que entrou em pânico. Adivinhe o que ele me pergunta: "É sobre o que mesmo?" Ainda tentei explicar que eu havia visto o livro na vitrine umas semanas antes. Ele suava frio: "Não serve Lair Ribeiro?"
     Com uma calça que mal me serve e sem o livro de Duras, fui ao banco. Filas imensas, lógico. Até que chegou a minha vez. A moça que me atende não tem pressa alguma. Está ocupadíssima contando para a colega como foi a festa no final de semana. Parece que ela levou um fora do Rogério e agora está namorando o Valdo, só que o Valdo mora longe, e ainda por cima ela ainda gosta do Rogério. Com um problemão desses, quem vai ligar para o meu saldo e pagamento do IPVA atrasado?
     Fim de tarde no supermercado. O carrinho está com as rodinhas tortas e tem uma folha de alface presa na grade. Tudo bem. Recolho nas prateleiras o que preciso e vou para o caixa: "O senhor lembra o preço do palmito?" Claro que não lembro. Lá se vai um garoto verificar. A fila vai só aumentando atrás de mim e eu prometo que nunca mais vou comer palmito na vida, quando o garoto volta. Engraçado, eu pude jurar que ele ficou grisalho, tamanha a demora. Já estou preenchendo o cheque quando me lembro que vai precisar chamar o gerente para endossá-lo. Rasgo o cheque e pago com dinheiro. Não tem troco. Lá vai o garoto trocar uma mísera nota de dez. E agora quem está ficando mais grisalho sou eu.
     O salário de todo este pessoal é uma vergonha, dá-se o devido desconto. Mas será que os empresários nunca ouviram falar em treinamento? A maioria dos estabelecimentos comerciais possui um quadro de funcionários completamente despreparados para atender os clientes. São pessoas que não valorizam o próprio serviço, não olham os clientes nos olhos e dão a impressão de estar prestando um tremendo favor em desperdiçar o seu sagrado tempo com o atendimento ao cliente. Sorriso é uma raridade. Bom dia, obrigado, volte sempre é latim ou russo. Informações na ponta da língua, sobre o produto ou serviço, nem pensar. parecem aliviados quando saímos da loja, e se não voltarmos mais, tanto melhor.
     Abram os olhos, senhores patrões. Um dia esta euforia consumista acaba e quem vai precisar de nós clientes são vocês.

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