sexta-feira, 26 de agosto de 2011

AS DENÚNCIAS PROLIFERAM, MAS COMO CONFIAR NAS REGRAS DO JOGO?

Deboche e Indignação.

Não é de hoje que o Brasil se depara com escândalos de corrupção envolvendo o dinheiro público. A tentação de enriquecer à custa dos contribuintes confunde-se com a nossa história, materializa-se de várias formas, envolve de trocados a muitos milhões de reais, tem como protagonistas de cidadãos anônimos a ministro de Estado. Talvez por essa lamentável repetição ao longo do tempo, muito provavelmente pela falta de punição exemplar e à altura dos danos causados e pelas demonstrações de complacência que, não raro, vinham do topo do poder, a corrupção tornou-se uma espécie de mal epdêmico da sociedade brasileira. Nossa indignação diante de um caso de roubalheira parece durar só até a eclosão do novo escândalo. É muito provável que essa maneira de ver o desvio como se fosse parte do processo tenha contribuído para as cada vez mais frequentes cenas de deboche a que estamos assistindo nos últimos tempos. Sempre se roubou dinheiro público no Brasil,. Nunca se roubou como hoje - ou, pelo menos, nunca se roubou de maneira tão escrachada.
A corrupção engole anualmente mais de 50 bilhões de reais em recursos públicos, um dinheiro reclamado em áreas vitais, como saúde, educação e infraestrutura, e cuja suposta falta frequentemente serve de escada para a idéia de criação de novos impostos. Essas são as perdas quantificáveis. Há danos invisíveis ainda maiores, porque solapam os fundamentos da livre concorrência. No jogo dos corruptos, o maior valor é a disposição de subverter as regras. Perde-se, assim, a confiança no sistema e, com ela, a disposição de investir, construir, aprimorar. Em algum momento, o país empaca.
Esse não é um cenário tolerável num país que sonha em chegar ao desenvolvimento. As manifestações positivas diante do recente afastamento e da prisão de servidores envolvidos em denúncias de fraudes, subornos e desvios são um poderoso sinal de que a sociedade brasileira ainda não está completamente anestesiada diante dos sucessivos escândalos. É preciso indignação e ação diante dos atos de corruptos e corruptores, sejam eles quem forem. Faxinas no governo, como as que estão sendo feitas, são um passo corajoso e importante. Mas o combate à corrupção envolvendo dinheiro público certamente vai exigir limpezas muito mais profundas no seio do poder, inclusive com punições exemplares. Cabe aos brasileiros de bem, que pagam seus impostos e cumprem o que diz a Constituição, exigir que elas sejam feitas.
Fonte: EXAME

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