O epicentro da briga pelo Pão de Açúcar.
A literatura e o cinema costumam retratar o mundo dos negócios como um ambiente frio e sem alma. Nas poucas vezes em que executivos e empresários ganham vida no mundo imaginário da arte, os personagens costumam ser desprovidos de emoções, gente que persegue de maneira desapaixonada seus interesses mais mesquinhos. Na vida real, para a felicidade de quem vive de retratá-los, as coisas são bem mais interessantes. Falamos de pessoas. De encontros - nem sempre cordiais, é verdade - entre personalidades diferentes, cada qual com suas paixões, sua visão de mundo, seu ego. Numa leitura rápida pela imprensa nacional, vislumbra-se com uma das mais espetaculares disputas do capitalismo brasileiro. Os empresários Abílio Diniz e Jean-Charles Naouri encontram-se atualmente numa ferrenha competição pelo Pão de Açúcar, maior rede varejista do país - uma empresa que confere, mais do que dinheiro, poder a seu controlador. São histórias como essa que se deve procurar contar.
A briga já teria todos os ingredientes de uma grande narrativa. Mas tornou-se ainda mais fascinante após a reação da opinião pública à oferta do BNDES de participar da fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour, idéia por fim abortada. O caso permite uma reflexão fundamental na definição do Brasil do futuro. A competição entre empresas é um dos elementos mais importantes na construção da prosperidade. Mas não há competição que prescinda de uma regulamentação robusta, uma evidência de décadas e décadas de história econômica. Precisamos, sim, de um Estado forte - na defesa do consumidor, na proteção da concorrência, no cumprimento das leis, na garantia dos direitos consagrados. Não deixa de ser irônico que, enquanto ainda patinamos nesses terrenos, estejamos pensando num Estado que seja dono de supermercados, processador de carne, fabricante de salsicha, operador de telefonia. Não faz sentido - e quanto antes o país e seus líderes acordarem, mais cedo atingiremos o desenvolvimento.
Fonte: EXAME
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